*Rogério Telles
“Sou pura Química”, assim deveríamos responder quando indagados sobre quem somos. Afinal, somos uma combinação de substâncias e fenômenos químicos, desde o instante em que somos gerados até nossa completa decomposição pelos microrganismos decompositores. Não apenas nós humanos, mas os demais animais, os vegetais e tudo do reino mineral.
Assim, nosso alimento, a água que bebemos, o ar que respiramos, a roupa que usamos, o veículo em que andamos, o leito em que dormimos, o lápis com o qual escrevemos, o mar, as florestas, o solo, enfim, tudo o que existe é formado por pelo menos uma substância química e as substâncias são formadas por pelo menos um elemento químico.
E quando falamos em elementos químicos, certamente, logo nos vem à mente a inesquecível Tabela Periódica – que neste ano completa 150 anos –, ferramenta indispensável aos químicos e estudantes de Química.
Isso porque, em 1969, o russo Dmitri Mendeleev, professor da Universidade de São Petersbugo, onde também se formou, teve a ideia de agrupar os pouco mais de 60 elementos químicos conhecidos na época, de acordo com o peso (massa) atômica de cada um. Essa teria sido a primeira Tabela Periódica, que atualmente é organizada em função dos números atômicos (números de prótons) dos elementos químicos, os quais, em número de 118, estão organizados em sete colunas (períodos) e 18 colunas (famílias).
Para se ter ideia da importância dessa Tabela, que, segundo o professor Carlos Alberto Filgueiras (UFMG) “pode ser considerada a enciclopédia mais concisa que existe”, em dezembro de 2017, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o ano de 2019 como o Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos (International Year of the Periodic Table of Chemical Elements – IYPT 2019).
O IYPT 2019 visa reconhecer a importância da Tabela Periódica como uma das conquistas mais importantes e influentes da ciência moderna, não apenas da química, mas também da física, da biologia e de outras áreas das ciências puras, assim como suscitar reflexões acerca “de sua história e do papel das mulheres na pesquisa científica, as tendências e as perspectivas mundiais sobre a ciência para o desenvolvimento sustentável, além dos impactos sociais e econômicos dessa área”, como destaca o site oficial do IYPT 2019 (https://www.iypt2019.org/ ).
Desde o ano de 1939, quando foi descoberto o frâncio (Fr), de número 87, a ciência não descobre elementos químicos naturais, tendo sido os cerca de 30 novos elementos da tabela sintetizados em laboratórios da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia, não estando o Brasil nesse seleto grupo de países com capacidade para gerar novos elementos químicos.
Somente no ano 2016, a tabela criada por Mendeleev foi acrescida de quatro novos membros, o 113 (nihônio), o 115 (moscóvio), o 117 (tennessino) e o 118 (oganessono), este último em homenagem ao físico russo Yuri Oganessian, 85 anos.
Ainda não há o elemento 119, mas o físico japonês Hideto Enyo e sua equipe pretendem inaugurar em breve a oitava fileira da tabela, haja vista os planos dos cientistas para dispararem feixes do metal vanádio (23 prótons) contra o cúrio (96 prótons) para gerar um metal chamado – até agora – de ununênio (um, um e nove, em latim), que ninguém, até o momento, conseguiu sintetizar.
Sem dúvidas, a busca de novos conhecimentos é o que torna a ciência algo tão intrigante e, por isso apaixonante. O próprio Sr. Hideto, quando perguntado pelo El País do propósito de sua busca, respondeu ser emocionante a descoberta de um novo elemento, “especialmente o 119, que será o primeiro da oitava linha da tabela periódica”.
A esse respeito, o professor Oganessian disse durante encontro da Unesco para celebrar os 150 anos da tabela de Mendeleev, “que o elemento 118 provavelmente ainda vai se mostrar um integrante do 18º grupo da tabela. Na transição do 118 para o 119, espero ver mudanças, que provavelmente serão observadas, mas ainda de forma fraca”, e indaga: “A partir desse ponto, a tabela periódica teria de mudar?”.
Certamente, essa resposta não virá logo, pois mesmo os estudos do japonês ainda estão em fase inicial, podendo levar anos para chegar a resultados satisfatórios. Além do mais tratam-se de pesquisas muito caras que, mesmo quando conseguem criar um novo elemento químico, ele se mantém estável apenas por milésimos de segundos.
Diante de tudo isso, o que se pode perceber é que o futuro da humanidade dependerá muito das novas descobertas científicas, o que dependerá de sólidos investimentos em educação e em pesquisas, devendo os governantes se comprometerem com essa importante agenda.
*Professor do IFMA e conselheiro do CRQ-11